O que é o Sobretreino?
Evitar o sobretreino (overtraining) é tão importante quanto a dedicação ao treino. Quando treinamos com objectivos competitivos, as cargas, o volume e a intensidade vão trazer modificações e desafios que o nosso organismo irá absorver sob stress. Apesar de ser uma situação que pode acontecer a qualquer atleta, este estado pode ser prevenido, desde que treinador e atleta estejam atentos aos primeiros sinais de alarme. Ao longo deste artigo afloramos aquilo que alguns autores e investigadores concluíram sobre o tema.
Quando o atleta passa por um período de sobretreino poderá passar pelas seguintes experiências:
- diminuição da performance;
- mudança no apetite;
- irritabilidade;
- ansiedade;
- perda de motivação;
- depressão.
Estes sintomas são comuns a todas as pessoas que passam por este processo, porém a identificação do sobretreino é difícil. Existe alguma variedade de sintomas em cada caso, não é linear e nem todos os atletas têm as mesmas sensações.
Treino e a relação overtraining/overreaching
«A estrutura do treino inicia-se com o atleta em um período de pequena performance ou de uma menor performance. Após este período, temos a aplicação aguda de cargas e a menor performance é aumentada, com a continuação de aplicação desta carga temos um estado denominado de overreaching, onde ocorre queda na performance do atleta, mas com um período de recuperação há a supercompensação e melhoria da performance.
Quando este período de overreaching não é bem aplicado e ocorre mal adaptação, então começamos a ter uma queda de performance e ocorrem os sintoma de sobretreino, que é um período de adaptação inadequado. Atinge os atletas pelo menos uma vez em suas carreiras (Armstrong, 2002).»
Existe uma outra explicação para o desenvolvimento do overtraining, que tem que ver com o trabalho que o organismo leva a cabo para enfrentar os agentes stressantes, neste caso o sobretreino é assumido parcialmente como a síndrome de adaptação geral (GAS) que possui três fases:
1 – Alarme
2 – Resistência
3 – Exaustão

É difícil lidar com o sobretreino, geralmente quando aparecem os primeiros sinais o atleta refuta e desvaloriza, por outro lado o treinador tem dificuldade em garantir que se trata de sobretreino. A especificidade da modalidade e as características do atleta fazem com que cada caso seja um caso, embora que existam aspectos que são transversais.
Além das dificuldades bioquímicas, biológicas e fisiólogicas (Gleeson, 2002) em diagnosticar o overtraining, deve-se ainda verificar que tais sintomas podem estar ligados a doenças, infecções, restrições calóricas, deficiência de ferro, estresse ambiental e problemas emocionais e pessoais (Gleenson, 2002).
Não existem biomarcadores objetivos para o overtraining e o mecanismo fundamental não é conhecido (Armstrong, 2002). Contudo, “existem algumas áreas de pesquisa que demonstram respostas hormonais alteradas para o stress, como as alterações em respostas do sistema imunitário, alterações bioquímicas e uma associação entre o overtraining e a depressão, devido aos sintomas, estrutura cerebral, neurotransmissores, caminhos endócrinos, os quais oferece esperança para monitorizar o aparecimento do overtraining (Gleeson, 2002).”
No seguimento desta ideia já existe uma proposta de tratamento de atletas com sobretreino com base no recurso a antidepressivos e aconselhamento psicológico. Esta ideia atesta a necessidade de haver um controlo dos aspectos psicossomáticos, psicológicos e fisiológicos para uma possível identificação do overtraining (Uusitalo, 2001).
Existem estudos dedicados ao treino intenso, que identificam uma subida do cortisol sem alterar ACTH .
Portanto, é racional pensar que a mesma alteração descrita acima, ocorre com o exercício. No entanto, estas alterações podem tanto aumentar quanto diminuir, dependendo do grau de stress e especificidade do exercício (Armstrong, 2002).
São exemplo as alterações neuronais que ocorrem nos exercícios de endurance e resistência. O que pode justificar os tipos anaeróbios e aeróbios de overtraining.
Podemos confirmar em diversos estudos e em toda a literatura disponível que o estado de sobretreino é frequente em atletas de alto rendimento e que ocorre mais do que seria desejável, visto que não existem marcadores de stress que possam auxiliar os treinadores e preparadores físicos terem balizas para a prescrição das cargas e para a definição dos períodos adequados para o repouso. Diz-se muitas vezes na gíria em meio desportivo “o descanso também é treino.”
É fundamental que haja uma relação de confiança entre treinador e atleta, bem como uma grande honestidade da parte do atleta em ouvir os primeiros sinais. Quando se reduz a carga a tempo evita-se o sobretreino e todas as complicações que esse mesmo estado traz.
A exigência do treino de alto rendimento expõe mais facilmente o atleta ao overtraining, contudo os atletas amadores também estão sujeitos, visto não terem conhecimentos, nem treinadores capacitados para os instruírem a saber gerir as várias fases da época desportiva.
O excesso de treinos com cargas, volumes e intensidades desajustadas às necessidades e possibilidades de cada atleta, bem como o excesso de competições expõem mais estes atletas ao overtraining. Acontece que nos grupos informais onde os atletas amadores se inserem, o ritmo, volume e intensidade não são definidos em função de um planeamento objectivo, ou das necessidades e possibilidades de cada atleta, mas sim de factores aleatórios como o que decidem os líderes desses mesmos grupos.