A origem e evolução do Atletismo em Portugal

Tartan, temporizador, relva, outdoor.

A história do Atletismo em Portugal tem cerca de cem anos. Cem anos em que há muito para contar, desde as várias figuras que marcaram o atletismo português até à evolução das diferentes disciplinas e a organização de grandes competições. Segundo Norbert Elias (1992) a maioria dos desportos têm origem nas Ilhas Britânicas, o Atletismo não é excepção. Essas influências, que estão presentes desde o início da história do Atletismo em Portugal, contribuíram com várias ideologias e valores culturais e desportivos que foram adoptados pelos clubes que surgiam no fim do século XIX. Segundo Cardoso (2001), o ano de 1906 “vai transformar hábitos e despertar consciências, do estreito «nicho» da alta sociedade lisboeta, para a importância social e higiénica da prática desportiva”.

Outra ideia adoptada nesta altura, também com raízes inglesas, é o conceito de Sportsman:

“Sportsman é tão somente o indivíduo de boa condição e cultura intelectual que exerce, com distinção e assiduidade, na qualidade de amador, um ou mais ramos de sport […] Não pode ser interpretado convenientemente por indivíduos incultos e boçais, em que as noções de bem e do belo não foram apuradas pelos agentes ampliadores do estudo, da prática e do conforto do convívio da sociedade seleccionada…”
Evolução, velocidade, fundo, meio fundo.Ainda em plena Monarquia, no ano de 1906, se realizavam festas desportivas em que, para além do Atletismo, eram várias as modalidades praticadas, tais como, o Ciclismo, Cricket, Ténis, Tiro e Esgrima.

Algumas das disciplinas praticadas nesta altura eram o lançamento do peso, salto em altura, corridas de resistência, salto em comprimento, barreiras, salto com vara e obstáculos.

Algumas destas festas desportivas têm raízes anglo-saxónicas e eram consubstanciadas por britânicos sediados na região de Lisboa. Estas festas eram vistas pelas Suas Majestades e Altezas que se encontravam nas bancadas e com as quais se rejubilavam com os desempenhos atlécticos que evoluíam no velódromo. Muitas destas pessoas ilustres davam nome aos prémios de cada prova do programa, como por exemplo, no salto com vara em que o prémio se designava de Sr. Ministro de Inglaterra.

Primeiras provas de estrada

Apesar do Atletismo ter começado a ser praticado com as disciplinas que existem actualmente, já na última década do século XIX, era possível encontrar, no panorama das competições, as corridas pedestres que se podiam assemelhar ao Atletismo e que movimentavam vários grupos populares. Nesta altura era notório a influência de raízes anglo-saxónicas, nomeadamente na criação de clubes e dos seus respectivos nomes.

Estes organizavam as corridas pedestres, tal como refere Cardoso (2001), “Elas granjearam tal popularidade que, a 29 de Janeiro de 1895, pelos caminhos enlameados que uniam Paço de Arcos a Algés, o Walkim Race Club (Algés) organizou, num percurso de 15km, o primeiro Campeonato de Portugal de Estrada”. Estas primeiras provas de estrada tinham distâncias, que não a da maratona, 42,800m (distância na altura consagrada para uma maratona), pois seriam eventos destinados ao fracasso. Porque esta era uma distância que obrigava a uma melhor preparação e a maioria das pessoas não tinha hábitos de treino, logo não participariam em provas com tão longa distância.

Início da maratona em Portugal

Só em 1910 é que a maratona começou a ser praticada em Portugal com a distância oficial, tendo como primeiro vencedor Francisco Lázaro, célebre pelos seus inúmeros êxitos na sua curta carreira, que ficaria manchada pelo trágico términos da sua vida, que seria em plenos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo.

O inicio deste trágico acontecimento seria durante a prova, em que “Aos 25 quilómetros da corrida de Maratona ia bem, aos 30 quilómetros foi fulminado pela insolação” . O atleta seria alvo de tratamento que se revelou ser insuficiente para evitar a sua morte que surgiu em consequência de “um desequilíbrio hidroelectrolitico irreversível…” causada pelo facto de se ter untado, com uma substância gorda para evitar a sudação, julgando assim que iria aumentar a resistência ao esforço. Este trágico acontecimento mostra a pouca cultura e conhecimento da fisiologia do corpo humano em esforços desportivos.

Segundo Cardoso (2001), importa referir, a frequente ocorrência de eventos e número de clubes, na zona de Lisboa e em particular na linha do Estoril, em que este diz,

“Mas não era só Lisboa. Os clubes da linha do Estoril aderem ao movimento, tanto mais que durante a época balnear recebiam nas suas localidades muitos lisboetas que «iam a banhos». O Atletismo tornava-se num entretenimento em Algés, onde o Real Ginásio Clube Português tinha um campo, mas também na Cruz Quebrada, no parque Mira Torres, as provas eram organizadas pelo Club Sport Cruz Quebrada, Caxias e Paço de Arcos”.

Regulamentação e dinamização do atletismo

Foi também no ano de 1906 que surgiu a apresentação de um regulamento de competições. O trabalho realizado neste ano teve os seus frutos no ano seguinte, em que foram realizadas ainda mais competições de Atletismo. Assim, uma importante figura da época é o Dr. Mauperrin Santos, Director da Escola Académica, grande apoiante da modalidade e da importância da prática desportiva na formação dos jovens.

Este organizou no campo do Velódromo da Palhavã um grande concurso de «sports athléticos», de onde saiu vencedora a equipa do Real Club Infante D. Manuel, que se superiorizou a equipas estrangeiras, como o Bordéus, Baiona, Biarritz ou San Sebastían. Mais tarde, a 27 de Novembro de 1909, é formada a Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (SPEFN), a qual viria a ser presidida pelo Conde de Penha Garcia e pelo Dr. Mauperrin Santos, presidente e vice-presidente respectivamente.

Esta sociedade surge após os Jogos Olímpicos de Londres de 1908, terem passado ao lado da comunidade desportiva portuguesa, através dos higienistas e dos desportistas, onde os primeiros defendiam que a Educação Física era uma medida de higiene. Assim, a 26 de Junho do Velódromo da Palhavã são realizados os primeiros Jogos Olímpicos Nacionais.

Devido a esta iniciativa ter atingido um grande sucesso é lançada uma campanha de dinamização do Atletismo pelo Dr. José Pontes, na qual os principais atletas lisboetas se deslocavam pelo país, de forma a divulgar a modalidade. Para isso eram construídas e projectadas novas pistas por todo o Portugal (Évora, Funchal, Coimbra, …). Esta iniciativa veio a dar os seus frutos, em Junho de 1911, aquando da realização dos segundos Jogos Olímpicos Nacionais onde se notou grande evolução.

O ano de 1911, marca o aparecimento do cross-country, conhecido como o corta-mato. A 7 de Maio é realizado o primeiro cross-country nacional no campo do Lumiar, prova vencida por Francisco Lázaro.

“Já tínhamos atletismo de estrada e atletismo de pista faltava aquela «invenção» britânica, resquício das caçadas aristocráticas de finais do século XIX, o cross-country.”
Cardoso, C. (2001)

O ano seguinte viria a ser um dos mais significativos por ter sido fundado o Comité Olímpico de Portugal (COP) e por coincidir com a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, que teve uma comitiva de seis atletas, entre eles Francisco Lázaro (maratona), Armando Cortezão (800m) e António Stromp (100m e 200m).

Autor: Professor David Inácio

 

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